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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A emergência das doenças emergentes e as doenças infecciosas emergentes e reemergentes no Brasil

Resenhado por Tônia Rocha

O título acima pertence ao artigo publicado em 2002 pela Revista Brasileira de Epidemiologia e tem como autor o Professor Expedito J. A. Luna, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Em um primeiro momento, ele discute a emergência do conceito de doenças emergentes e reemergentes na epidemiologia baseado na teoria da transição, onde doenças infecto-parasitárias estariam sendo substituídas por doenças crônico-degenerativas de acordo com o aumento do nível sócio-econômico de cada país e como que a epidemia de aids veio modificar esta teoria.

Depois, o autor explica o porquê da emergência e da reemergência das doenças infecciosas nos tempos atuais, ressaltando que múltiplos fatores atuam simultaneamente. São eles:

- Fatores demográficos: acelerado crescimento da população mundial, principalmente dos países subdesenvolvidos, tendo como conseqüência uma intensa aglomeração nas áreas urbanas com uma infraestrutura ineficiente. A imigração e a facilidade de realizar viagens contribuem para a emergência de doenças;

- Fatores sociais e políticos: guerras provocando um intenso deslocamento de pessoas, concentrando refugiados e a maior liberdade sexual;

- Fatores econômicos: o comércio internacional como via rápida e fácil de disseminação de doenças;

- Fatores ambientais: grandes projetos de engenharia, como a represa de Itaipu, que desencadeou casos de malária no sul do país. O desmatamento, o reflorestamento, a ocupação humana;

- Fatores relacionados ao setor saúde: falhas no controle do sangue e hemoderivados contribuindo para a disseminação do HIV e outros agentes, práticas de esterilização precárias, a falência da saúde pública em muitos países.

- Fatores relacionados à mudança e à adaptação de microorganismos: uso generalizado de antibióticos e a falha na adesão aos tratamentos, principalmente nos casos de tuberculose.

- Manipulação de microorganismos com vistas ao desenvolvimento de armas biológicas: a varíola, o antraz, a tularemia, a peste, o Ebola, dentre outros.

O autor retrata a situação das doenças emergentes e reemergentes no Brasil e o peso que o perfil infecto-parasitário aqui exerce. Refere-se à onda epidêmica da dengue que atinge grandes proporções nas grandes cidades do país, à ocupação da Amazônia e a ocorrência da malária nas zonas periurbanas. Outras doenças citadas são a epidemia do cólera no início dos anos 90, as leishmanioses, a esquistossomose, a febre amarela e a leptospirose como um problema nacional.

Por fim, descreve os desafios colocados pela emergência e reemergência das doenças infecciosas, sendo o principal deles a complexa otimização da vigilância epidemiológica, que envolve a capacitação de todos os profissionais, a existência de uma rede de laboratórios organizada, o reforço da rede de vigilância epidemiológica, o reforço aos serviços e atividades do campo da saúde ambiental, a informatização de um sistema de notificação de doenças online, o claro envolvimento das universidades e dos institutos de pesquisa, novas tecnologias de diagnóstico, agilidade na transformação dos planos e projetos em ações concretas, a diminuição da burocracia, a carência de recursos humanos qualificados, dentre muitas outros. E para isso, é preciso que a sociedade civil se organize e pressione o poder público para que este seja mais ágil e possa estar preparado para enfrentar a emergência e a reemergência das doenças infecto-parasitárias.

O texto é bastante lúcido e descreve de forma abrangente a real e complexa situação que se encontra o mundo em que vivemos no que tange as doenças infecto-parasitárias.

Cabe aqui comentar que não somente portadores de HIV encontram-se em estado de imunossupressão como também pacientes que fazem uso de quimioterápicos, de terapia prolongada com corticóides, pacientes transplantados, pacientes com câncer no sistema imunológico (linfomas e leucemias), pessoas idosas (e a tendência é que a perspectiva de vida aumente), sendo esses mais alguns dos fatores que derrubam a teoria da transição. É preciso uma modificação no pensamento dos profissionais do setor de saúde, que estão viciados a pensar de acordo com esta teoria, para que uma investigação mais apurada seja feita na suspeita de uma doença infecciosa.

Muito embora o artigo tenha sido publicado em 2002, mostra-se totalmente atual, já que vivemos no momento a tão polêmica gripe suína.

Vale à pena ler na íntegra em http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v5n3/03.pdf.

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